quinta-feira, 26 de abril de 2012

periodicidade



periodicidade
(Vinícius Andrade)

que te faz ter projetos?
escrever durante um ano,
ininterruptamente,
viver com a mesma pessoa
apaixonadamente
comer e beber e festejar
os motivos da razão
e os rompantes da emoção

que te fez ler isto?

neg


neg
(Vinícius Andrade)

nego ser assim,
um cara negativo
nêgo, sim,
pois fiz uma negociação
com Deus, amigo negão
de me fazer mulato negligenciado,
mas poeta em negrito

nobilíssima macheza


nobilíssima macheza
(Vinícius Andrade)

em nome do pai,
do filho,
e do neto,
sejamos fieis

poema do objeto de desejo sexual


poema do objeto de desejo sexual
(Vinícius Andrade)

pernas torneadas
glúteos redondos
seio safado
e o outro danado
lábios de botox
pêlos dourados
cabelos compridos
cobrindo os olhos puxados

corpos midiáticos
gostos determinados
por um padrão diagnosticado
psico-sei-la-o-que-mente
como mal intencionado
desejos marcados
por objetos idiotizados

filosopoetices


filosopoetices
(Vinícius Andrade)

na falta de algo inspirador para dizer,
pensei

barcelona II


barcelona II
(Vinícius Andrade)

em vez da apreciação,
a classificação

em vez do aplauso,
o discurso

em vez de observar,
o dissertar

em vez do contemplamento,
o lamento

em vez da teoria,
a poesia!

política futebolítica


política futebolítica
(Vinícius Andrade)

quando me perguntam se gosto mais de política
ou de futebol
não hesito em responder de bate-pronto
que prefiro arte

estado de graça


estado de graça
(Vinícius Andrade)

mulheres do meu Brasil,
desuni-vos
com urgência!
pois vemos vir a vigência
de um machismo
às avessas
sintetizado pelo feminismo
ressentido por vinganças

assinado: um macho desesperado.

cornograma


cornograma
(Vinícius Andrade)

sabe o sujeito que sofre bullying do destino?
resolveu achar solução no sexo oposto
e na sexualité errada do seu tempo

sem mais, reticências

Karma


Karma
(Vinícius Andrade)

cansado de sofrer bullying do destino,
um dado sujeito deu cabo dessa vida,
tratou de comprar um computador,
e sacramentou uma nova existência
na qual todas as suas frustrações
são resolvidas por meio de toques
e de mentiras veladas em rede

cansado de sofrer também na nova vida
o certo errado sujeito de logoff
de toda conectividade
pensava ter evoluído o espírito
mas continuou a ter problemas
diferentes dos anteriores,
mas problemas, questões, dilemas

non-Computer-XXI-Century-Man


non-Computer-XXI-Century-Man
(Vinícius Andrade)

não me lembro de nada
nem do que jantei ontem
muito menos da roupa
que você diz ter usado

não tenho mais capacidade
sou lotado de pensamentos pesados
gigantescos, megabytescos
que torram minha memória

zerei minha mente
com videogames
e porcarias da indústria
foi minha própria culpa?

uma, duas, três tentativas
e uma vaga lembrança...
que muito provavelmente
está errada

pescaria



pescaria
(Vinícius Andrade)

eu não pesco
e você também não
não é minha praia
e nem mesmo praia é mais praia de ninguém
vivemos tempos muito urbanos
com gente vivendo em tocas
em pseudo-casas pequenininhas
com cheiro de compensado
recompensadas pelo trabalho técnico
pseudo-competente
que realizam para a sociedade
decadente

poucos homens amavam as mulheres



poucos homens amavam as mulheres
(Vinícius Andrade)

homens deveriam dar mais flores às mulheres
- isso não compensaria o resto

veias abertas



veias abertas
(Vinícius Andrade)

facas nos dentes
é hora de fazer política

acidente


acidente
(Vinícius Andrade)

a morte enquanto jovem
é de fazer arregalar os olhos
de um anjo

barcelona I


barcelona
(Vinícius Andrade)

todos querem saber
de onde vem essa coisa toda
moderna, diferente, nova
que nunca se viu
jamais com tanta astúcia
nem em canto algum,
nem n'astúrias,
essa arte
esse método
essa loucura

de onde vem isso?
onde fica barcelona?
o que significa
para o mundo
barcelona?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

nelson, o rodrigues


nelson, o rodrigues
(Vinícius Andrade)

quantos caralhos
daqueles voadores
serão necessários
para que se compreenda
a importância
da literatura
na cultura?

Vamos Ficar


Vamos Ficar
(Vinícius Andrade)

vamos ficar aqui,
meu bem.
pois te quero bem
e te quero aqui.

vamos tentar mudar
pro bem
o que não convém
a nós, aceitar

vamos ficar,
também,
com ou sem,
e nos contentar

vamos ficar
cansei de ir
não vamos fugir
pra nenhum lugar

um cãozinho e um violão


um cãozinho e um violão
(Vinícius Andrade)

a companhia de um cão
e o som de um violão
juntos
sob o vento do ventilador
que ventila a alma
as ideias
e a casa

Postagens Sinceras


Postagens Sinceras
(Vinícius Andrade)

nenhuma das poesias que compus
nenhuma delas
nenhumazinha sequer
diz a verdade sobre mim
sobre o que sinto
ou sobre o que penso
são todas representações
personagens
reflexos benignos ou malignos
de uma persona
uma personalidade
um wannabe
que nem sequer sabe-se
se chegará a ser
portanto
o meu eu mais sincero adverte
continue lendo-me.
é capaz de chegarmos juntos
a conclusão alguma
ao fim de tudo.

Cócega


Cócega
(Vinícius Andrade)

sentir felicidade é uma coisa tão rápida
que você sente vontade de rir
não que fique feliz novamente
mas acha graça de si mesmo
se debocha
da sua própria inocência
em achar que sentiu felicidade

Felicidade é uma cócega

Defesa


Defesa
(Vinícius Andrade)

os idiotas se tornam políticos
os imbecis trabalham para os políticos
os retardados não gostam de política
e os defasados morrem pela política

quem poderá os defender?

cara chato


cara chato
(Vinícius Andrade)

o cara sobe
e diz que sofre
o cara desce
diz que padece
o cara fica
mas não se anima
o cara vai
e não se atrai

Cadê suas coisas?


Cadê suas coisas?
(Vinícius Andrade)

todos deveriam tentar
uma vez que fosse
pegar umas palavras
as que façam sentido
mesmo que para ninguém
mas só para si mesmo
e dizê-las poesia

todos deveriam compor
uma música que fosse
para ninar alguém
para dançar
para chorar
umas notinhas melódicas
bobocas

grito

grito
(Vinícius Andrade)

faz tempo que não sinto vontade de gritar
um grito bem gritado
ousado
socialmente safado

faz tempo que nem mesmo um grito
vive dentro de mim
abafado
moralmente relevado

faz tempo que eu não sou mais grito
ando preocupado
capado
legalmente adequado

Corporate Affairs


Corporate Affairs
(Vinícius Andrade)

controle da falta de tempo
gestão do contentamento
felicidade interna bruta
índice de acariciamento humano
varizes emergentes
outsourcing de si
benchmarks invejosos
sociedade atônita
e companhia limitada
parceiros sexuais
dinheiros capitais
corporações humanas
human affairs

should i stay or should i go

should i stay or should i go
(Vinícius Andrade)

sempre odiei a situação
não que a oposição
me desse ombro
ou camisa
mas não é minha vontade
transformar partidos
em rima poética

também não gosto de rima,
by the way,
e nem de liberdade-at-all
gosto de estalos
e de desagrados
e de citá-los
como também os agrados

foda-se o muro
e a obrigação
foda-se no muro
pela coisa de ter que estar
em alguma posição
em cima
ou embaixo

Ciclo Confuso

Ciclo Confuso
(Vinícius Andrade)

Não vou me perdoar nunca
por todas as oportunidades que perdi.

Não vou perder mais nenhuma
oportunidade de perdoar a mim.

Dê Gradação à Humana

Dê Gradação à Humana
(Vinícius Andrade)


à degradação
humana
os devidos créditos
pelo silêncio
pela tristeza
pela estupidez
pela pobreza

parabéns
para quem?

cult, kitsch, inutl

cult, kitsch, inutl
(Vinícius Andrade)

o que é um jeans vermelho,
senão apenas um jeans vermelho?
e óculos de borda grossa
senão óculos de borda grossa
e o funk
senão apenas funk
cult
cult
kitsch
kitsch
e o inútil
a perda de tempo sobre o que é
e sobre o que não é
inútil

baldes de café

baldes de café
(Vinícius Andrade)

preciso de muito café durante o dia
desde a manhã
até o fim da vida

preciso de muitos cafés
pois tenho muito sono
e pouca fé

é preciso muito mais café
para alimentar-me
de esperança

Casuarina

Casuarina
(Vinícius Andrade)

planta bonita
sambatrevida
árvore da vida
músicardida

Mater Mática Hemato Poética

Mater Mática Hemato Poética
 (Vinícius Andrade)

 poesia é matemática idiossincrática aplicada

terça-feira, 27 de março de 2012

O Re-Sentido da Vida

O Re-Sentido da Vida
(Vinícius Andrade)

Você que queria mais
e você que quer mais
não fiquem tristes
somos todos assim
somos todos iguais

sempre querendo mais
uns tão correndo atrás
outros são humildes
mas todos assim
somos todos iguais

eu que queria paz
tu que sentia demais
seremos felizes?
ou ficaremos assim
seremos sempre iguais

ele, que vivia pós
nós nos unimos mais
somos as matrizes
ou filiais, tipo assim,
como nossos pais

Poesia para (meu) poeta

Poesia para (meu) poeta
(Amanda Amorim)

Homem que é poeta
não lê muita poesia
acredita que o dia-a-dia
já traz muita melancolia

Poeta que é poeta
não conta versos ou estrofes,
conta com a vida e a morte
rima inspiração e sorte

mas
poeta verdadeiramente Poeta
é mais do que o poema
é menos que uma vida
é mais ou menos
Homempoesia

Ser Só

Ser Só
(Vinícius Andrade)

O cheiro do teu fracasso é um perfume ruim
combinado ao suor dele, inhaca grudou em mim
seus perdedores, ignorantes, infelizes
que gostam de bajuladores, pedantes, atrizes
tomem rumo decente... tomem café, chá quente
façam aquilo que lhes convier o próprio ventre
mas esqueçam-me de todas as maneiras possíveis
cansei de pensar nas providências cabíveis
para sumir
para morrer
para parar de carpir
para parar de roer
as unhas
as todas unhas
que os dez dedos
alimentaram os medos

vagabundos
encardidos, imundos
vão para a ponte, taquem-se
nus, rasguem-se
que a vontade é uma só
ser só

Penas

Penas
(Vinícius Andrade)

livrai-me de sentir a pena que sinto da pena
livrai-me, quem pode me livrar dessa pena
livrai-me de sentir que a pena só condena
livrai-me, pena pequena da alma serena

Poesia para o Dia da Poesia

Poesia para o Dia da Poesia
(Vinícius Andrade)

Como nasceu a ideia,
o jogo das palavras
veio espontâneo?
formou-se tudo como
nesta mente perturbada
por palavras e ideias
que trepam entre si
se conversam
se entendem...
...e mais que isso!
visam confundir!

Como nasceu o poeta,
e seu 'dom' com as palavras?
veio quem primeiro
o dom ou o dono
ah, mente atordoada
que gosta de fazer poesia
e se regozija
e se desentende
e se arrepende,
ou diz que se arrepende,
no minuto após concluir

Ei, poeta,
poesia!

Pingos nos Peitos

Pingos nos Peitos
(Vinícius Andrade)

Chuva
nus peitos nus
de musa
quem dera minha
quiseram todos
serem pingos
aqueles pingos
para estarem cá
agora em minha boca
antes de terem estado
nos peitos teus

Cabelos Livres

Cabelos Livres
(Vinícius Andrade)

esses seus cabelos
não são loiros
nem castanhos
nem lisos
tampouco cacheados

esses seus cabelos
nem pretos
e nem brancos
nada de frisos
ou balaiages

esses seus cabelos
non-rabo-de-cavalo
quiçá tranças
teus cabelos, assim
são livres, teus cabelos

BRA x ARG

BRA x ARG
(Vinícius Andrade)

Os brasileiros
Roberto Carlos
herois
vidinha
modéstia
Ode aos corretos

Os argentinos
Diego Maradona
vilões
vidinha...
soberba
Ode aos errados.

Caipira pós-moderno

Caipira pós-moderno
(Vinícius Andrade)

Curto o interior
pois não é curto o interior

A creme-de-la-creme poétique

A creme-de-la-creme poétique
(Vinícius Andrade)

As boas poesias do poeta
não estão no papel
são as ideias
tão boas ideias
que, rápidas sacadas,
não tem tempo de serem anotadas
de tanto tempo que se gasta
ao admirá-las,
meras palavras...

Compartilhamento de poesia no século XXI

Compartilhamento de poesia no século XXI
(Vinícius Andrade)

As poesias não são mais as mesmas
coisas que já foram um dia
Elas agora tem Twitter
e outras formas de serem massa
parte integrante da massa

As poesias estão mais humanas
é mais difícil amá-las,
mas o prazer é maior

Há poesias todos os dias
E todas as horas, minutos
elas estão por toda parte
isso é uma maravilha
a verdadeira maravilha

Vanguarda

Vanguarda
(Vinícius Andrade)

Tudo jáfoi falado
o bom e o mau
o bem e o mal
O que resta, agora
É o que resta agora?

quarta-feira, 21 de março de 2012

O que é que essa alma tem?

O que é que essa alma tem?
(Vinícius Andrade)

Minha alma é pequena
precisa enxergar
ver, ouvir
comer, tocar
e pior de tudo
deseja gostar

Minha alma é densa
precisa experimentar
enxer-se
de gas lacrimogêneo
para apagar
tanto incêncio

Minha alma é lusitana
precisa errar
insiste viver
não ouve bem
é burrinha
como ninguém

Minha alma é amena
mas precisa cantar
se ouvir
ser todada
mais que isso
almejada

Vida Esfoliante

Vida Esfoliante
(Vinícius Andrade)

A vida
a cada dia
me esfolia
de maneira ardida
arranca peles velhas
camadas mortas
e faz nascer novas
camadas de vidas

A vida
me esfolia
até que dia?

A vida
me esfolia
mas o resultado
é belo

Rumo a Paris

Rumo a Paris
(Vinícius Andrade)

vamos a Paris
sempre teremos o Rio
mas preciso saber
qual das duas prefiro

vamos a Paris
demos um jeito de ir
preciso conhecer
preciso me desdividir

vamos a Paris
o caminho, acho, é lá
deixe-se ir,
precisamos andar

Interruptor

Interruptor
(Vinícius Andrade)

On:
nasci
brinquei
namorei
e fodi

casei
trabalhei
vivi
e sorri

cantei
e dancei

não herdei
mas enriquei

Off:
...

Alergia

Alergia
(Vinícius Andrade)

Quando tenho alergia
a alergia me tem
não consigo fazer
viro outro ser
quando tenho alergia
e ela me rouba a alegria
desconcentro
perco o centro
viro chato
viro espirro
que me explodo
...me fodo

segunda-feira, 5 de março de 2012

Praia

Praia
(Vinícius Andrade)

areia
areja
a mente
quente
fluente
demente
areia,
areia,
areia.

Sonho de Consumo

Sonho de Consumo
(Vinícius Andrade)

há quem ande por andar
há quem por nada, nade
há quem voe por money
há quem pare.

Endereço

Endereço
(Vinícius Andrade)

eu moro ali
esquerdo lado
de um peito seu
não vou sair

O direito de viver à mercê

O direito de viver à mercê
(Vinícius Andrade)

Não gosto de política, nem nasci pro trabalho
não sei o que é jesuíta e não condeno baralho
quero ter mil quatrocentos e vinte cinco filhos
e educá-los a sempre viver fora dos trilhos.

Não gosto de hierarquia, somos todos iguais
seres tão fedidos, não somos mais que animais
quero dizer que discordo desse conceito de mundo
e, claro, aceito então ser taxado vagabundo.

Tiraram do meu futebol a emoção do improviso
tiraram-me o alcohol, agora nem mais dirijo
era uma vez uma fábula chamada salário
o teu aplauso agora há de ser meu honorário.

Privaram nossos corações dos prazeres da vida
encheram nossas visões com redobradas mentiras
e ainda que o tempo hoje corra bem mais rápido
acho, quem sabe, que deu pra deixar o meu recado.

Morena... Moreno...

Morena... Moreno...
(Vinícius Andrade)

Morena...
Deus te fez tão bela
vê se não apela
sai dessa janela
a vida não se vê na tela
pega teu moreno
leva pra sereno
tira dele o terno
e usa o teu charme de mulher de fino trato!

Moreno...
Deus te fez esperto
vê se fica calmo
deixa desse orgulho
a vida não se vê do muro
pega tua morena
chama de pequena
tira dela algema
e lança tua lábia de mocinho de novela!

Cachaça C/ oração

Cachaça C/ oração
(Vinícius Andrade)

vamos nos ajoelhar nas escadas da Penha
Pedindo, de um jeito cândido, uma graça
se a promessa não concretizar, que pena
caindo, de um jeito bêbado, acho graça

essa tal fixação por Paris...

essa tal fixação por Paris...
(Vinícius Andrade)

essa tal fixação por Paris...
nunca entendi
mas finjo que sim
que sei de onde o povo tira
tantos artistas
tantas meias-noites
tantos tangos
tantas listas...

essa tal fixação por Paris...
ainda não entendi
quem sabe, se
me bandear por ali
descubro de onde tiram
tantas receitas
tantos poetas
tantas merdas...

essa tal fixação por Paris...
se falo que não
é mentira
se falo que sim
é vergonha
e to eu aqui, falando de Paris
tantos assuntos
tantas favelas...

e essa tal fixação por Paris...

Tim Tim Por Tim Tim

Tim Tim Por Tim Tim
(Vinícius Andrade)

Liberdade!!!
vamos salvar os cupins?
livrem também os aipins!
e sejamos gentis com os pinguins
versões polares dos guaxinins
aqueles! que vi em Parintins...
larga de papo! vem de patins!
chega mais logo que estamos afins
de papos com repiques e tamborins
chega depressa, musa de jeans!
cucas legais tão fazendo tin-tins

volto logo

volto logo
(Vinícius Andrade)

é coisa rápida esse meu sumiço
não te preocupa
não te ocupa
não te desocupa a cabeça, amigo

amiga... deixa pra cá teu ombro
à distância
toda instância
jura que sou dono do teu choro

volto logo
volto tão logo consiga ser dono
de mim

Brainstorm poético-profético

Brainstorm poético-profético
(Vinícius Andrade)

uma poesia não precisa de uma vida inteira
pra ser verdadeira

uma poesia precisa de uma vida inteira
e de uma veia

Carnaval

Carnaval
(Vinícius Andrade)

a serpentina toda sobre o chão
os restos de fantasia na mão
a gente bêbada de manhãzinha
neurônios em zig-zag caminham
pro apocalipse da alegria
rumo ao mundo de tanta agonia
a festa, atesta o silêncio
queimou-se toda num incêndio

as lembranças de um carnaval
não se repetem
nenhum carnaval é o mesmo
a vida se repete

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Personificação do Banho

A Personificação do Banho
(Vinícius Andrade)

Os azulejos amarelos do meu banheiro
estão azuis de fome, beges de tédio
aguardando um fortuito próximo banho
uma nova canção, um choro, um berro

As águas que caem pelo meu chuveiro
esperam ansiosamente pelo meu corpo
enquanto eu apelo pelo amor de Deus
pedindo misericórdia para cada pêlo

Os fios de algodão egípcio da toalha
anseiam por essa pele tão 'brasileiro'
me abraçam daquele um jeito peculiar
de quem se sacrifica contra meu frio

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quartas Cinzas

Quartas Cinzas
(Vinícius Andrade)

pode ter feito o mais forte
o mais bonito ou mais torpe
aquele que suscita poesias
o sol de mil maravilhas
mas não adianta, não muda
a quarta de cinzas é turva
é data para introspecção
viver a folia da solidão
da obrigação de amanhã:
quinta ingrata, vilã

O Nosso Carnaval

O Nosso Carnaval
(Vinícius Andrade)

somos dois felizes
você uma daquelas atrizes
de anos profanos
com peruca alourada
pinta preta pintada
can-can saltando à perna
numa quente tarde de terça

somos dois felizes
eu, um daqueles infelizes
de olhos profundos
e face abobalhada,
em face à tua meiga risada,
personalidade fantasiada
de alegria e palhaçada

Marchinha Contemporânea

Marchinha Contemporânea
(Vinícius Andrade)

comporei uma marchinha
pra ser legal
sem usar nenhuma rima
tom atonal

e vou te chamar de neguinha
é carnaval
ser escroto e racistinha
já foi normal

vou pagodear a valsinha
sou genial
rimar cueca e calcinha
e pedra e pau

concluirei poesia minha
dom natural
samba de terceira linha
na real...

amores efêmeros

amores efêmeros
(Vinícius Andrade)

muito beijo
algum nojo
nenhum senso
tanto tolo
prazer torto
amor morto

Carnaval des amour

Carnaval des amour
(Vinícius Andrade)

uma notícia boa
pode ser ruim
pra mim
se vier numa data...
numa data especial!
como um diz feliz
ou o carnaval

um amor, no entanto
é sempre bom
mesmo que o mesmo
amor de outros carnavais
é o amor que tá ali
façam sóis,
temporais...

Mulher-Areia

Mulher-Areia
(Vinícius Andrade)

eu não me posso desejar
mulher tão tão verdadeira
que é coisa muito fina
que é artigo de primeira

eu só devo ser humilde
vida não faz brincadeira
sou só meio tom de homem
ela é uma oitava inteira

eu vou simples, devagar
pra fugir de ribanceira
sou sem sorte e sem flor
ela é a chuva da roseira

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Poema Do Chato Pra Caralho

O Poema Do Chato Pra Caralho
(Vinícius Andrade)

quando eu,
insuportavelmente eu,
representar uma figura
insuportavelmente
chata e pedante
aparência de arrogante
diante da tua crise
me minimize

quando eu,
arbitrariamente eu,
perturbar tua luxúria
arbitrariamente
sã e provocante
à lingerie lancinante
diante do teu anseio
me acuse devaneio

quando eu,
peremptoriamente eu,
insistir em ser mala
peremptoriamente
um mala gigante
da que não é rolante
perante pátios de aeroporto
me julgue morto

e quando eu,
politicamente eu,
te irritar quando falo
politicamente
tudo corretamente
alegando bem da gente
aguente, pois...
e me beije depois

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Morena d'Olhos

Morena d'Olhos
(Vinícius Andrade)

morena dos olhos d'mel
do corpo esguio
e dos cabelos morenos
à manhã és mais clarinha
impressionantemente minha
modelo top de linha

morena dos olhos d'terra
do seio duro
e dos fios de ovos
à tarde sois pardinha
como uma goiabinha
coisa boa, divina

morena dos olhos d'jabuticaba
do pescoço um
e de mão esquerda
à noite é escurinha
nem a lua te alumia
vira semi-neguinha

Coisa Poética

Coisa Poética
(Vinícius Andrade)

vou tacar um monte de palavras
que, soltas,
essas piranhas formarão
uma poesia
ou algo muito próximo a isso
já que hoje tudo é rima
tudo é lindo e linda
qualquer merda é poesia

cansei dessa porra de métrica
dessa babaquice que é a rima
ter que ter sentido
e inspirar
poesia deveria ser coisa orgânica
aquilo que te ajuda a respirar
ou a parar de falar bobagens
como estas

poesia deveria vir em guia
palavras piranhas libertinas
rimas meninas cretinas
métrica mocreias carcomidas
a coisa poética tá cansada
tá em desuso, tá mal-falada
já era
será?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

True Colours

True Colours
(Vinícius Andrade)

sou neguinho e sou branquinho
tenho em mim tantas cores
de todas as nuances
que me reflete a vida

sou azulzinho
no jeito mansinho
de montar meu afro
pra alisar teu coração

sou amarelinho, roxinho
lilás, verde e marronzinho
sou coloridinho
e quero cada vez mais cor

quem me dera viver assim
num ying yang cromático
quem me dera ser tudo
preto, branco e asiático

Que cor sou eu?
De que cor sou eu?
pois pardo é papel
e não tenho cor de véu

Sou negritinhozinho
sou o que quero ser
as cores que me sou
as cores que quero ter

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Amores, nunca segredos

Amores, nunca segredos
(Vinícius Andrade)

o grande segredo do nosso amor
é não dizermos sim
é não obedecermo-nos, enfim,
para continuar buscando o amor

o grande segredo do nosso amor
é ficar nesse ciclo
sem fim, sem início
de continuar atrás do amor

o grande segredo do nosso amor
é não ouvir 'eu te amo'
tantas vezes quanto eu desejo
e continuar fazendo o amor

A Vulgar Chegada do Som

A Vulgar Chegada do Som
(Vinícius Andrade)

penso em Carlitos
em Valentino
e na vinda do som
como terá sido
penso nisso...
penso em mim
e em como será
quando tomarem meu lugar
que ainda nem ocupei!
dá uma agonia, uma angústia
pensar no futuro
melhor nem pensar...
em homenagem,
vou calar.

o carnaval deste ano

o carnaval deste ano
(Vinícius Andrade)

o carnaval deste ano será
mais um 'o carnaval deste ano'

este ano
vou cantar, tocar, sambar
dormir, sorrir e me iludir
dizer, me liquefazer e ver
como nos outros anos
a folia vir
e ir

tudo rapidamente
tudo tão de repente
sem que dê tempo de sambar
só mais um dia...
sem que dê tempo de sonhar
com a eterna alegria

homem-pilotis

homem-pilotis
(Vinícius Andrade)

algo para falar
opinião
sobre a situação
polítiqueconomicaifinancêra
de um mundo sem chão
que ninguém sabe pronde vai

algo a dizer
sempre
sobre a opinião
de eu, tu, ele, nós, vós, eles
sócioidiológiquespiritual
no mundo de ocasião
que ninguém sabe quando cai

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Cartucho Vazio

Cartucho Vazio
(Vinícius Andrade)

- empty -
- slots -
- empty -
- vazio -
- empty -
- minds -
- empty -
- heart -
- empty -
- lifes -
- video -
- games -
- empty -
- slots -
- empty -

o medo do medo

o medo do medo
(Vinícius Andrade)

estou tremendo
sem mover um pelo
o medo é meu medo
da falha e do erro
e de ter medo

não tem coberta
que faça passar
o frio
filho desse medo
um frio morno

não tem água
para tanta sede
de coragem
para não sentir
tanto medo

sinto um medo
de ser do medo
de virar segredo
ao qual me apego
e me acostumo

vade retro, medo
suma comigo
deixa de ser de mim
de dentro deixa
mim, eu ser

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O beijo do homem

O beijo do homem
(Vinícius Andrade)

no beijo não há
pois o beijo não há
não mais
será que já?

o beijo do homem
outrora sempre
hoje dúvida
questão perene

o beijo mudou
virou abraço
destransformar
como faço?

só mais um beijo...
beijo bom, ruim...
whatever beijo
mas beijo, enfim

Aqui jaz o jazz

Aqui jaz o jazz
(Vinícius Andrade e Amanda Amorim)

ao som de jazz
um prato, dois garfos
três animais...
qual deles é capaz
de superar o som do jazz
a ponto de poder
como maestro, dizer:
- É isso mesmo, rapaz
a rima tá certa
aqui se diz é jazz.

Cadelices

Cadelices
(Vinícius Andrade)

como pode ter gente
menos gente
que muito cachorro
e cachorro
mais gente
que muita gente?

como é que há gente
que não entende
que muito cachorro
é menos cachorro
e mais gente
que muita gente?

como, gente?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Rio-Brasília-Rio

Rio-Brasília-Rio
(Vinícius Andrade)

vou contigo na viagem
não que eu vá em corpo,
pois não comprei passagem
mas vou de intruso
no teu corpo jovem
no qual ficou meu cheiro

vou contigo na viagem
não deu pra ir em corpo,
pois não tive coragem
de abandonar tudo
emprego e bagagem
e meu tão pouco dinheiro

ah... mas eu vou contigo na viagem!
dessa vez, não em corpo
pois quero que na nuvem
vejas meu rosto
tom esbranquiçado-ferrugem
pelo climinha do cerrado

Eu ♥ Estado

Eu ♥ Estado
(Vinícius Andrade)

me ame também, Estado
torna-me cidadão
ande comigo, mão em mão,
me assuma teu namorado

me cuida a saúde, Estado
nasci órfão
e também sem coração
não me vira a cara de lado

me corta o açúcar, Estado
esprema-me limão
e tire-me o miolo do pão
pra eu não morrer infartado

me oferece cultura, Estado
por que razão
me obriga danças de salão?
gosto assim, tipo misturado

Meio, Mensagem, Passagem

Meio, Mensagem, Passagem
(Vinícius Andrade)

O meio é a mensagem
o meio não é a mensagem
o conteúdo é a massagem
e o túnel da passagem
para a mestiçagem
a saudável miscigenagem
o meio não é mais margem
nem meio, nem viagem
o meio?
fim.

Bad Movies

Bad Movies
(Vinícius Andrade)

gosto de filmes ruins
e de músicas com letras boas
que também sejam ruins
não me importam notas
contanto que as imagens
e as mensagens
me façam ficar afim
de ouvir e ver
me rir, me ler

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Rio Em Janeiro

Rio Em Janeiro
(Vinícius Andrade)

O Rio, Em janeiro
me tornou saudosista
daqueles fevereiros
em que éramos chuva

e não mais que isso
éramos chuva e suor
hoje somos areia e dor
poeira amiantada que cobre-lua

O Rio explodiu em janeiro
e eu fiquei meio assim
meio assado, parado.
deitado no meio da rua

e esperei não mais que isso
que algo caindo sobre mim
e eu subindo assim
alma leve, triste, nua

Medíocre Mediunidade

Medíocre Mediunidade
(Vinícius Andrade)

sou Vinícius do Carmo de Andrade
e não tenho nenhuma mediunidade
mas tenho muita mediocridade
e mesmo que já tivesse idade
para não ter mais mediocridade
seria, talvez, coisa da idade,
achar que a vivência, que a vivacidade
me tornariam alguém com mediunidade
para superar os vícios da mediocridade

Samba Sem Sentido

Samba Sem Sentido
(Vinícius Andrade)

Dormi no samba
Chorei às pampas
Criei expectativas pra caramba

Jantei aranhas
Morei na rampa
Lambi os seu suores das entranhas

Toquei bananas
Subi na lama
'Rranquei filés, alcatras e picanhas

Pequei na lhama
Nutri marianas
Zerei meu criativo, minha manha

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

IPO-me

IPO-me
(Vinícius Andrade)

por que não?
lançar oferta pública
de ações
do meu nobre e pobre coração?

acho que é isso
lançá-lo ao mercado
de corações
para não sofrer sozinho os riscos

depois, quem sabe, a alma
ofertar primeiro baratinho
divulgar só boca-a-boca
pra depois curtir a alta

vou enriquecer
com meu corpo e alma
emoções
em uma tela de LCD

A Ponta

A Ponta
(Vinícius Andrade)

o dedo que aponta
apronta
uma pronta armação
diretamente para a ponta
da própria testa

sábado, 28 de janeiro de 2012

Oi, Futuro

Oi, Futuro
(Vinícius Andrade)

o Futuro
está numa receita
da Ana Maria Braga
que se anotou
se imaginou
se babou
se comprou
se preparou
se retirou
se provou
se engordou
se culpou
se orgulhou
se deleitou
e se cagou

Culturaê

Culturaê
(Vinícius Andrade)

por vezes tento mergulhar
na cultura que é um mar
na promessa de mente fértil
e liberdade que não se viu

por vezes tento me explicar
se cultura pra buscar
é veramente uma fonte útil
ou é mera bobagem pueril

EnCulturaê
EnCulturaEu
DesCultura-se
DesCostura-me

Calimocho

Calimocho
(Vinícius Andrade)

o vinho e a coca-cola
protagonizaram uma cena
mas que cena...
uma cena digna de uma ópera
meio Verdi... meio Mozart
ou seja... densamente distintos
se misturaram em suas loucuras

A coca,
moça preta
preferência mundial
efervescentemente jovem
no borbulhar da pele gostosa
refrescante e danosa

O vinho,
senhor...
de poucas boas línguas
metido, de tom avermelhado
no embriagar do seu alto teor
cobra criada enganado

pois ousaram apresentá-los...
e essa ousadia juvenil
uma transgressão à ordem
à existência de mundos xis
mexeu cabeças
mexeu quadris
mexeu mesas
lisas e bombris

A maciez da minha literatura

A maciez da minha literatura
(Vinícius Andrade)

quando eu escrever
será algo macio
um texto bem difícil
dos que tornam vida
momentaneamente pior

(visto que é boa
quando se é besta
posto que é ruim
quando se atesta)

mas quando eu escrever
será realmente macio
o texto bem ridículo
visto que é ridícula
toda tentativa de criar

criar não se tenta
criar se cria
não se pensa
se copia

a minha literatura não será minha
visto que o empréstimo
durará nem uma vida...
minha literatura
não será de ninguém

In Horóscopos We Trust

In Horóscopos We Trust
(Vinícius Andrade)

o jeito como é tudo
engana-te tanto...
é mentira entranhada
nas entranhas, é modo
que porque não
acreditar em magia
em tecnologia
em horóscopos
e em teólogos?
em bafõmetros!

tudo é uno, um é tutto
o meu, o seu, o dele
o deles, o vosso, o nosso
estamos todos na mesma
no poço profundo mesmo
que mais um signo
menos um digno
não muda mais é nada
não acredito mais em não-nada

Relatividadezação

Relatividadezação
(Vinícius Andrade)

concordo
que pode ser
que pode estar
que pode não estar
que ser não pode
que ser estar
que ser pode
que estar pode
que estar não
que estar não ser
não concordo

Na Nuvem

Na Nuvem
(Vinícius Andrade)

na nuvem
eu gostaria de compartilhar com o mundo
meus mais profundos
sentimentos de angústia, de dor
de vertigem
de fome e de amor.
preciso que a internet me sinta
e preciso senti-la
não posso imaginar que a nuvem
é algo da minha imaginação
necessito de chão
de paixão
de um pouco mais de retrospecção
necessito ser de hoje
mas meus sentimentos são de ontem

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

V

V
(Vinícius Andrade)

está em mim
na vingança
na esperança
na esperança?
é... na esperança.
de deixar de perder
de ser menos menor
menos pior
menos atroz
menos menos
e, enfim
sentir um gostinho
de vitória

13 de maio

13 de maio
(Vinícius Andrade)

Dia treze de maio
o cativeiro acabou
e os escravos gritaram
'liberdade, senhor!'

Na treze de maio
prédio inteiro desabou
e os bombeiros gritavam
'piedade, senhor!'

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Al-Olhar

Al-Olhar
(Vinícius Andrade)

Essa coisa arábica
tão sua
Sua e de sua mãe
das olheiras que delineiam
acima das maçãs
um olhar dos que devoram
profundo
isso é bonito
é muito bonito

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Qual é o Limite?

Qual é o Limite?
(Vinícius Andrade)

a sua bunda
ou a minha bunda
ambas têm um fim
pode ser o intestino
pode ser a audiência
cabe a você definir
o tamanho da sua escolha

Lovely Rita

Lovely Rita
(Vinícius Andrade)

Rita
não vá
sem você não será
a mesma merda que hoje há
fica, Rita
aguenta conosco
e faça protesto
em forma de notas
de socos nas portas
contribua com canções
modesta e gentilmente pedem,
seus fãs

O para sempre infinito

O para sempre infinito
(Vinícius Andrade)

apesar da vida,
da briga
e da ferida,
eu te amo.
e amo.
e amo.

Religião

Religião
(Vinícius Andrade)

sou teu Jesus
te salvei
te dei internet

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Caralivro ou Caralivre?

Caralivro ou Caralivre?
(Vinícius Andrade)

Saí do Facebook
mereço um buquê?
porque?
livrei-me dos noobies?
melhorei os índices?
aumentei o PIB?
fiquei mais livre?
socializei conhecimento?
moralizei comportamento?
comprei menos em vão?
não
apenas saí do Facebook

BRICs

BRICs
(Vinícius Andrade)

Clinton
aquele da sala oval
deu, ao Brasil, aval
dizendo ser o mais promissor
do bloco neo-opressor

Clinton,
o da estagiária
esqueceu, tem memória falha
que o Brasil não é BRIC não
é, sim, um país BRInCalhão

Clinton,
que mora lá nos isteitis
não passa pelos perrengues
que o eu e o tu, dia a dia
aguentamos sem agonia

Clinton,
o ex-presidente grisalho
acho, cometeu ato falho
elogiou a terra errada
mude-se pra Pavuna, camarada

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma para Uma

Uma para Uma
(Vinícius Andrade)

não tô nem aí pra coisa alguma
fujo dos hipsters, dos bacana
daquilo que põe a gente em cana
e vivo querendo a minha dama
quando penso se a terra é plana
será que a física ainda se engana
cantariam os deuses astromantas?
sob atmosferas azul-cianas...
ares buenos, brisas amenas
sofro só de pensar nas africanas
e nas europeizações levianas
que introduziram, essas putanas
água de chope escuro no meu samba
agora vou-me embora, manos e manas
canso fácil, não sou dos bambas
é hora de ir, veja à sombra
são já nessa poesia, uma para uma

Pro(voc)atividade

Pro(voc)atividade
(Vinícius Andrade)

eu vou provocar
até tu pedir arrego
quero que enforques
com minhas ideias, a si mesmo

bom se eu provocar
até tu pedir chamego
quero que namores
suas próprias ideias, pelego

vamos provocar!
até largares o emprego
quero que evoques
ideias, nego

Caneca e Vinho

Caneca e Vinho
(Vinícius Andrade)

cansei de me ver
nesse universo burro
de só 'trabalho e amor'
sou mais que amor
e menos que trabalho

ganho caneca da firma
perco tempo na fila
jogo dados eróticos
esperando sexos ótimos

na verdade, na verdade
se é só isso
acho mera vaidade

e quero ser mais
'trabalho e amor' só?

acho realidade atroz

Buarque

Buarque
(Amanda Amorim)

O ser existe
Braços, boca e olhos ciano
O ser caminha
O ser insiste
Em ser humano

O ser tem cara
Vira matéria
É desigual
O ser escancara
Sua existência genial

O ser exala
Delicadeza pela fala
Sol que esquenta o dia
Luar que deixa a noite clara

Chico Buarque

Chico Buarque
(Vinícius Andrade)

como ser um ser
à altura
do ser Chico
quando, ao se ver
Chico,
apequena-se
pequenenico
diante do ser-mito?

como dá pra dizer
alguma...
como Chico
quando, ao conhecer
Chico
paralisa-se
espantadito
diante do caro amigo?

como tentar ter
sua dama
pós-Chico
quando, ao ouvir
Chico,
notabiliza-se
não-arrependido
que seria um mico...

A solidão

A solidão
(Vinícius Andrade)

A solidão
rói
corrói
enrudece
e endurece

A solidão
matou meus rins
e meus fins
sacrificou-me o fígado
e também o tímpano

A solidão
me fez feliz
por um triz
quando decidi
que não morri

A solidão
solidarizou-se
de mim
e me fez companhia
enfim

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Rap(t)e me

Rap(t)e me*
(Vinícius Andrade)

acabe comigo
dá-me bebida alcoólica até o fim
até o fim dos meus sentidos
faça-me afim
faça de modo ruim
e não se esqueça de ser bruto

me engane
dá-me tapas na cara, bata-me
até o fim dos meus gemidos
finja-me afim
finja, mas finja sim
que não esquecerei do ser bruto

rape me
rapte me o orgulho
chamaram-te homem
chamava-se mulher



*poesia dedicada à não-violência contra a mulher

Por Enquanto

Por Enquanto
(Vinícius Andrade)

Sou.
Por enquanto.
Daqui a pouco, nem isso...
é tudo emprestado,
nada meu
nada seu
nenhum céu
com muito mel

sou,
por enquanto,
daqui a pouco, nada mais
e não quero ser emprestável
quero ser seu
céu
seu eu, tão meu

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Para te ver melhor...

Para te ver melhor...
(Vinícius Andrade)

sou totalmente ceguinha
sou jovem menina que nada vê
fico assim, na minha
se vontade de me mexer

sou toda boba, uma bobinha
e não quero usar os óculos
tenho medo de ficar feinha
não ser olhada pelos moços

sou tão, tão, tão inha
que do auge da minha solidão
tapo-me minha boquinha
e evito chorar em vão

Coca-Cola

Coca-Cola
(Vinícius Andrade)

eu bebo uma coca-cola
ela me inspira
minha mente decola
enquanto penso no borbulhar
da água gaseficada
e das outras substâncias
todas misturadas

a coca-cola que eu bebo
me inspira
pois como não bebo
quando bebo
penso como seria beber
como seria viver
como seria ser outro cara
um cara que bebe coca-cola

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O segredo da mente do poeta

O segredo da mente do poeta
(Vinícius Andrade)

o que quer o poeta?
o mesmo que o profeta?
qual é a sua meta?
quer que alguém se meta?

quer o nobel?
uma vida doce como mel?
lindas mulheres sob véu?
ou cachaças como troféu?

o poeta quer ser lido?
e ter seu verso dito
redito, repetido, desdito
retuitado, deturpado, mito?

poeta quer banana?
quer fugir da rima "bacana"
deseja ser sacana?
quando quer ir pra cama?

seguiremos sem saber
o poeta não se deixa saber
é pedra dura demais pra conhecer
é palavra russa pra chinês dizer

Português Presidencial

Português Presidencial
(Vinícius Andrade)

presidento!!!
é assim que vou chamar agora...
foda-se o mundo!
foda-se o certo!

poesia do dia 28 de dezembro

poesia do dia 28 de dezembro
(Vinícius Andrade)

esta poesia
nenhuma regalia
há de ter
quanto as outras todas

esta poesia
não há de ser
mais eficiente, melhor
que minhas outras

esta poesia
diz nada
a não ser
que diga coisa

Tédio

Tédio
(Vinícius Andrade)

Existe algo mais prazeroso do que a luta
assistida intima e ferozmente
sempre que o fare niente
brinca de guerra contra a culpa?

Tédio.

Quero novos conflitos, pois este é batido.

Brownie

Brownie
(Vinícius Andrade)

vendo anamariabraga
deu vontade de cozinhar
de um brownie preparar
um brownie de nozes
e nele me botar
depois te separar
te colocar
e nos misturar
um brownie de nós(es)

Tiro na mão

Tiro na mão
(Vinícius Andrade)

periguete
masca chiclete
no honda civic
onde já se viu?

faz programa?
e sem vista panorâmica?
na casa de festa
onde vai o pateta

beijo tu
beijo o teu susto
beijo ela
só não na testa

tira a mão
pois dá explosão
mira na mão
futuro no chão

Jesus Cristo Mendigo

Jesus Cristo Mendigo
(Vinícius Andrade)

eu,
2011 anos depois,
ainda acredito na bondade
e na caridade
essas grandes bobagens
como forma de salvar
essa merda que meu pai fez
chamada humanidade

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Natal

Natal
(Vinícius Andrade)

acabaram-se os panetones
as romãs entupiram o ralo
as uvinhas murcharam
todo mundo quer sonhos