quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pena


Pena
(Vinícius Andrade)

Ninguém é feliz
por mais de alguns segundos
felicidade é dopping
é droga moderadamente pesada
é desaceleração forçada
é muita coisa junta
pruma cabeça só
pruma vida só
que pena...

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Namorabilidade


Namorabilidade
(Vinícius Andrade)

Namorar não é só fidelidade
Eu, a pessoa do outro lado,
digo com propriedade
de primeiro e único,
de despertador da sua namorabilidade
o quanto espero de um amor
espero a inesperabilidade
aguardo a atemporalidade
e porque não burlar a efemeridade?
ainda sou dos que crê
dos que não sabem ler
e, por isso, sentam-se com dentes largos
expostos à beira de muitos maltratos
seus, deles, da vida, da expectabilidade
humana, inata, irracional, barata
faço o tipo de raça dita abobada
pois ainda sonho, ainda me componho
do jeitinho que sou
essa coisa um tanto quanto rascunho,
para uma namorada.

terça-feira, 28 de junho de 2011

o homem das dezenove horas


o homem das dezenove horas
(Vinícius Andrade)

Em Brasília, sua terra
um cara muito grande
morador do peito dela
alguém deveras bastante
sujeito feito às antigas
correto, chato e gaiato
cantigador de cantigas
um coração nato,
disse-me na certa vez
durante sessões de pizza
e citações e outras três
não ter paciência ou pilha
não gostar de carro ruim
e esbravecer se sua filha
declarar amor em mim

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Budapeste no inverno do Brasil


Budapeste no inverno do Brasil
(Vinícius Andrade)

como é lá?
é tudo duplo,
buda com peste
vira nome
junta oeste com leste?
vira abismo cinzento
com boates urbanas
pessoas profanas
e assobios de vento?
faz frio, frio, frio
friiio...
faz-se livro
mas faz-se amigos?
e as cervejas
e os maridos
e o idioma do diabo
algo lá faz sentido?

domingo, 26 de junho de 2011

Um


Um
(Vinícius Andrade)

uma pessoa
um beijo
um amor
uma viagem
uma espera
um tempo
um voo
um continente
uma ideia
uma foto
uma sorte
uma certeza
um tudo

Feliz...


Feliz...
(Vinícius Andrade)

...aniversariarte

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Déjà Vu


Déjà Vu
(Vinícius Andrade)

Não nos vimos antes
não fomos amantes
não creio em vidas
não fomos bailarinas russas sofridas
não participei da guerra
que dizimou tua terra
não tivemos experiências
ou plenas vivências
que possam ser admiráveis
de espiritualidades notáveis
não me recordo de beijos
que tenham precedido desejos
não senti nunca a mesma coisa
nem amei igual a mesma moça
não se repetiu momento
de felicidade ou de lamento
não veio à mente o minuto
em que eu, menino fajuto
já começava a saber que era tu
quem me faria crer em déjà vu

Febril


Febril
(Vinícius Andrade)

jogue água nas minhas costas quentes
vento pra dentro das ventas ardentes
sou todo nervos pelando, sou fervente
sou criança triste, sou homem doente

taque remédio dentro da minha mente
promova paz na superfície emergente
mulher e homem, doença intermitente
eu sou só eu, você podemos ser a gente

meu tempo louco me deixou assim, senil
e um outro amor me deixou ruim, febril

terça-feira, 21 de junho de 2011

Meu sono


Meu sono
(Vinícius Andrade)

pra onde foste, meu sono?
irei atrás de ti, danado!
fuja não, fuja não...
quero que conheça um velho amigo:
meu colchão!

brincar de ser criança


brincar de ser criança
(Vinícius Andrade)

teu corpo é meu brinquedo
com ele, eu me divirto
sem ele, eu labirinto
tuas mãos me rodam como num carrossel
e as minhas fazem em ti tranças da rapunzel

tua pele é meu brinquedo
tua flor é meu amor
suspiros de torpor
dados, mapas e conspirações num tabuleiro
quem será o último a desistir primeiro?

teu sono é meu brinquedo
que velo, assim, bonito
que veio, assim, tardio
somos feitos do medo das nossas sombras
sonhos que comemos de perder as contas
tuas costas, meu brinquedo
onde quero trepar, subir
e até sorrio se cair...
mas peço, puerilmente, a papai do céu
não me vire as costas, levante-me seu véu

segunda-feira, 20 de junho de 2011

segunda-feira


segunda-feira
(Vinícius Andrade)

gostaria de me despedir
do amor que tenho por ti
domingo não é dia de rir
fez-se noite então aqui
é aquela coisa, não curtir
obrigação, dever a cumprir
segundas intenções hão de vir
se segunda-feira eu não sorrir

domingo, 19 de junho de 2011

Poema para os segredos da mente


Poema para os segredos da mente
(Vinícius Andrade)

sou tarado no seu inconsciente
naquilo que está guardado
no desejo trancafiado
mas que se exibe latente
na roupa que você veste
nos gestos mais delicados
ou nos risos exagerados
algo que você não mente
abro boca com tuas vertentes
tantos fluídos caminhos
cavernas com redemoinhos
palavras, rios; ideias, nascentes
eu sei é que me fascina gente
capaz de criar mundo
tornar raso, o fundo
com o que se passa na mente

sábado, 18 de junho de 2011

Poema da garrafa de bebida alcoólica


Poema da garrafa de bebida alcoólica
(Vinícius Andrade)

Uma garrafa de bebida alcoólica
por mais simples e barata
por pior embrulhada
contanto esteja engarrafada
é sempre um artigo de luxo
uma dádiva humana
um símbolo de esperança
uma celebração da efemeridade
uma garrafa de bebida alcoólica
nos faz crer piamente
amém
na eternidade

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os cabelos de sua amada


Os cabelos de sua amada
(Vinícius Andrade)

Os cabelos de sua amada
rapaz, que cabelos...
têm brilho, ou não têm
são longos ou quase nada
chei'dus cachos, lisiiinhos
amarelos como beterraba
tingiu negros pois queria
te atestar um panaca
uma vez que nem ligou
nem notou os dois dedinhos
que foram pra ti, ela cortou
é obrigação sua, companheiro
saber o centímetro do fio
decorar tudo que é data
desde nome de cabeleireira
até derradeira cafungada
quer isso não, desista então!
pois a importância do tema em pauta
é de fazer rapunzel triste
em feia dama acarecada



poema em homenagem a Braulio Tavares e seu "poema da buceta cabeluda"

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Proteção


Proteção
(Vinícius Andrade)

busco proteção
para meu corpo
para minha alma
para minha fala
para meus sentimentos
para minha fome
para minha sala

busco proteção
nos seus seios
na sua calma
na sua carta
nos nossos tormentos
nos seus risos
na sua cama

busco proteção
acima de tudo
acima do céu
além do inferno
acima do sol
abaixo de mim
além-fraterno

busco proteção
proteger-me
proteger-te
protegê-la
proteger-nos
proteger você
proteger

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Eclipse Lunar


Eclipse Lunar
(Vinícius Andrade)

A lua está desaparecendo
da minha vista
da minha vida
conforme estou envelhecendo
que fazer?
pro eclipse não continuar
que dizer?
pra imagem se perpetuar
noites iguais
luas descomunais
protagonistas
artistas
que somem
e meu olhar consomem

terça-feira, 14 de junho de 2011

MPB (Funk)


MPB (Funk)
(Vinícius Andrade)

waleska inspira
rômulo respira
catra conspira
povo transpira

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Nunca


Nunca
(Vinícius Andrade)

nunca
aquele dia bom
vai se repetir
nem me iludir
que outro bom
nunca
vai tornar a vir
vou tornar a rir
com um belo som
que nunca
hei de produzir
e me repartir
ser chamado dom
mais nunca
soube seduzir
sem me ferir
de vermelho tom
nunca...

domingo, 12 de junho de 2011

Queria Maracanã


Queria Maracanã
(Vinícius Andrade)

queria Maracanã...
hoje, domingo, flamengo
estar almoçando na pressa
e mesmo assim sair correndo

pegar fila, claro, porque não?
chegar antes, cantar bebendo
pôr a camisa que não é dry-fit
a que remete a um bom tempo

falar o óbvio, o senso-comum
faz parte do meu 'torcendo'
abraçar o desconhecido-amigo
por conta de um gol estupendo

Queria muito um Maracanã
muita maldade me tirar o templo
restringir essa felicidade dominical
vida minha que me estão devendo

sábado, 11 de junho de 2011

Amor Ao Longe


Amor Ao Longe
(Vinícius Andrade)

pensa
que enquanto voa
só um nome
na mente minha
ecoa
e, portanto,
vai com tranquilidade
deixa comigo o pensar
nem te esquenta
vai, voa
me encarrego de amar

sexta-feira, 10 de junho de 2011

isses


isses
(Vinícius Andrade)

ora, ora, ora...
desculpar-me-ei
outrora
por ter cometido,
por ora
tanta burrice
malandrice
estupidice
esquisitice
babaquice
doidice
animalice
bebedice
machice
nerdice
belzebuzice
ciumice
fuxiquice
briguice
e também
bobice...
e, assim, ter jogado fora
coisa tão bela...
que não aparece toda hora

quinta-feira, 9 de junho de 2011

paz


paz
(Vinícius Andrade)

sonhei que o mundo brigava
e nós fazíamos, juntos, paz
sonhei que a paz acabava
e nós nos amávamos mais

quarta-feira, 8 de junho de 2011

água publicitária


água publicitária
(Vinícius Andrade)

quem sabe...
chorar ouvindo 'eduardo e mônica'
não seja mera atitude irônica,

um sinal dos meus anos fugindo?
eu caindo fora de dentro de mim
desgarrando-me da minha noção
do que é ser macho exemplar

eu sendo sensível por ora
e a sensibilidade hiper aflorada
me dizendo que não há nada
nada que não se deva sentir
conquanto não queira mentir

admitir para o próprio eu.

deixar a água cair de jeito fácil
sabendo o que significa
e não se incomodando

eis novidade

terça-feira, 7 de junho de 2011

Relógio


Relógio
(Vinícius Andrade)

Relógio?
eu não uso.
não vais me controlar!
ah... não vais mesmo!
nem mesmo triste fico
se atrasas
se dás perdido
se me deixas aqui
com cara de nádega

Relógio...
vai ver uso...
não vai me controlar?
tens certeza mesmo?
não fico triste, juro
quando atrasas
quando eu, perdido,
sou eu assim
sem saber de nada

Relógio!
veja que uso.
não serve para controlar...
tenho a mesma certeza
quando juras que ficas triste
pois atraso,
pois te deixo perdida
pois ficas afim
de que te faça amada

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Que queres?

Que queres?
(Vinícius Andrade)

meu corpo não necessita algo
não me encanta anel
não preciso colocar véu
não bote batom gosto-mel
não peça pra provar que amo

minha cabeça não tolera tolo
não me pague hotel
não venha prometer o céu
não se divulgue, bacharel
não considero nada disso fofo

meu espírito não é de dar colo
eu não curto cordel
não vou subir em babel
não me desenhe com pincel
não percebo teu momento solo

Quero um pouco do que Quero

sábado, 4 de junho de 2011

Postais, E-mails, Fotos


Postais, E-mails, Fotos
(Vinícius Andrade)

Quando não brotarem boas ideias
ou não queira pensar em presente
mande-me postais da viagem
daquela vez em que, em Berlim
Brandenburgo fez-te lembrar
de algum modo, pela arquitetura
de cultura relacionada a mim

Se a criatividade faltar, numa boa
não acho digno ter que desculpar
portanto, numa mais boa ainda
passaste por por aquele concerto
e eles tocaram a nossa música?
faça-me o favor, sem pestanejo
grave pedaços, mande por e-mail

Em caso de falhas de memórias
e isto pode acontecer contigo, oras
registre o que pareceu-te eterno
e torne visível aos meus olhos, pois
para que possamos rir, bobalhões,
das caras feias, do que só nós sabemos
só nós achamos graça, só nós dois.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Saudades da América do Sul


Saudades da América do Sul
(Vinícius Andrade)

Tivéssemos, amanhã, Sábato
faríamos poesia sobre o agora
não riríamos do negro fato
nem pensaríamos que há glória

Fôsse vivo um certo Amado
riríamos da nossa desgraça
travestida de fato satirizado
que falta faz há uma década

Abraçássemos veias de Galeano
confesso, seria muita esquerda
nada seria confortável, pacato
na boa confortabilidade burguesa

Quiséssemos ser sul-americanos
comeríamos as poesias de Neruda
'Minha feia', nos elogiaríamos
nos separaria quase nada




este poema é uma pequena homenagem a quatro grandes

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Meu Boteco


Meu Boteco
(Vinícius Andrade)

Meu boteco tem louras safadas
Pudicas antes do chopp
Após, lindas vagabas

Meu boteco tem bons pastéis
Com gordas camadas de queijo
Uns que valem por três

Meu boteco tem garçons amigos
Que chamo pelos nomes
Cujos ombros foram, já, abrigos

Meu boteco, claro, não aceita fiado
Porque consumir e não pagar
É coisa de...

Sol Branco


Sol Branco
(Vinícius Andrade)

um belo sol branco vem aí
aquele que entra pela cozinha
enquanto faço um café forte
e corto frutas pela manhã
sonhei que nem frio, nem calor
e que o sol branco invadia tudo
me deixava mais claro
tonalizava como queria
o sol branco é tão bonito
torna até o suco mais gostoso
'inda mais depois de um abraço
de um beijo e de um afago
desejo um sol branco hoje
penetrando não só a retina
mas também a vida tua
e a de quem vá beber seu café

quarta-feira, 1 de junho de 2011

dez de transtorno


dez de transtorno
(Vinícius Andrade)

Dez dias deus me dará
para tirar a tirania toda
de den'di mim, doidin'
e trazer tranquilidade à tona

Dois dias pros dez dias
é tanto tempo até lá
dentro de um denso dia
que terei tempo pra tuitá

que dias de dada destreza...
tudo terno, tudo tenro
deixarei diminuir dend'água
transmutarei o que é torto

pois dez dias deus me há de dá
pra tentá entendê meu transtorno