segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Oração a São João Batista


Oração a São João Batista
(Vinícius Andrade)

São João
livrai-me
do medo da morte
batizai-me
mostra-me o norte
seja meu amigo
ouve meus lamentos
proteja meu abrigo
e cancele meus débitos

ai ai ai, São João...
tá tão complicado
sobreviver decentemente
aqui nessa terra, nesse lado
destruído, amargurado
tá tão, tão, tão difícil...
que oro a ti, santidade
livrai minha cabeça
desse mundo-precipício

empurra-me
são joão, amigão
dá aquele abraço forte
dá aquele aporte...
fala lá com os homens
pede tempo
pede que cesse o tanto
negocia o meu pranto
corrige minha ansiedade

ajuda, São João
tu que é o cara
que naquela época
em meio a todo nada
fez justiça
com as mãos e com fé
imagine agora
com essa tecnologia
se não me é capaz de atender?

domingo, 30 de outubro de 2011

Caramba!!! (uma irônica homenagem às obviedades)


Caramba!!! (uma irônica homenagem às obviedades)
(Vinícius Andrade)

...e outro ministro caiu
e o comunismo ruiu
e mais um músculo doeu
e meu filho ainda não nasceu
e a novela acabará bem
e o macarrão cairá muito bem
e sorvete no calor também
e o meu time tá muito aquém
e eu sinto que estou quase lá
embora não me ache no lugar
e tem mais comida aqui
e menos sabor para curtir
e tanto casal por aí
e tudo canalha, meu fi...
e nossa senhora a rogar
e seu filho a sangrar
e futebol para jogar
e dinheiro para tentar
e cemitérios para evitar
e roupas para lavar
e louças
e loiras
e moças
e coisas
e coisas...
e outras coisas

Halloween é o cacete!


Halloween é o cacete!
(Vinícius Andrade)

nós, seres hormônios fascistas
ao casarmos com as relativistas
vamos tirar o véu da dúvida
botar uma aliança conservadora
e carregar a custosa grinalda
para frente, para a guarda
dos bons costumes do passado
para o bem do brasil torturado

poema da nova poesia


poema da nova poesia
(Vinícius Andrade)

porque
temos
a
impressão
de
que
toda
nova
poesia
não
presta
não
inova
em
nada
ou
é
uma
grande
merda?

eu
duvido
eu crio

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Quase Chorar


O Quase Chorar
(Vinícius Andrade)

Hoje quase chorei
mas não chorei
porque se tivesse,
se chorado tivesse,
não teria mais sido
um quase choro

O quase chorar
ainda tem a dor
a dor do quase
e, prepare-se,
pois o momento
há de chegar

compor sobre a dor
que motiva o quase
é perturbador
e talvez uma falácia
já que a exposição
talvez tudo derrube

e derrubando tudo
todas as lágrimas
todo o processo
finda finito e tal
morre a expectativa
do quase choro

ode ao ódio


ode ao ódio
(Vinícius Andrade)

o ódio
que brotou com força
veio de fora pra dentro
e lá dentro ganhou mola
para o meu lado de fora

o ódio
cheíssimo de fundamento
mudou meu pensamento
sobre o próprio ódio

o ódio
que só a mim desafora
desfez o ódio

o ódio
não subiu ao pódio

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Arpoador


Arpoador
(Vinícius Andrade)

nada, absolutamente nada
aconteceu
ou acontecerá
enquanto eu estiver a esperar

arpoador
noite
dezoito graus
umas e outras ondas a estourar

areia cobre os pés
a roupa, com água, gruda
mas nada... nada acontece
se eu mesmo não me levantar

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Poema do cara que quer pensar


Poema do cara que quer pensar
(Vinícius Andrade)

vou-me sentar um pouco
aqui... ali, em todo lugar
pensar em coisas bobas
ou no que me deixa louco

vou pensar em ti
me inquietar de leve
pensando no que pensas
vou repensar-me a mim

vou-me sentar um pouco
e juntar as impressões
que tenho de cada símbolo
para concluir tão pouco?

vou mesmo praí
m'embora do correto
do safo, do sensato
pra poder sentir?

domingo, 23 de outubro de 2011

céu grisalho


céu grisalho
(Vinícius Andrade)

muito, muito estranho
acordar e olhar para cima
ver um céu sem sol, sem clima
ver formar-se um dia cinza
na atmosfera envelhecida
de uma manhã sem cores
entardecerdes sem tons

um dia grisalho evidencia,
por meio da natureza
a aproximação do fim
com o começo da minha tristeza

sábado, 22 de outubro de 2011

poema dos filósofos


poema dos filósofos
(Vinícius Andrade)

tenho a impressão
que todos os sócrates
tendem a ser espertos
bons de bola
grego, brasileiro
português ou galego
daqui, dum mundo de outrora
caras de todo modo, sinceros,
caras chamados sócrates

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Copacabana


Copacabana
(Vinícius Andrade)

é caríssimo
eu julgo, não sei...
mas boníssimo
o ar de copacabana
aquelas gentes
e semi-gentes
e tantas frentes
de humanidades
de sub-humanidades
vida bacana
vida única
copacabana
a confusão
a feira de domingo
os metrôs, os camelôs
os mendigo
ah... confusão
de um metro quadrado
hiper-ultra-mega-lotado
o que seria copacabana
sem sua farta vida plena?

poema do vício ao viciado


poema do vício ao viciado
(Vinícius Andrade)

quanto mais você me odiar
mais dentro de ti
hei de me petrificar
somos unha e carne
não vê
que sem mim tu não arde?
não enxerga o quanto nos amamos?
as vísceras que destruímos
e o quanto nos misturamos?
eu faço parte de você
e gosto bastante
do fato de, de fato, eu te ter

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Lolla


Lolla
(Vinícius Andrade)

baby dog,
você me faz idiota
conscientemente
você me faz idiota
e, porque não dizer,
poliglota
ao falar idiomas inventados
ao usar fonemas retardados
e entonações vocálicas
de uma mente boçálica
bacana isso...
ter um cão
dar-lhe um chão
e chegar à conclusão
que basta mover um grão
bobagenzinha de ação
e o mundo vira menos mundo cão

Humaitá


Humaitá
(Vinícius Andrade)

quis morar
morei
morarei no Humaitá
novamente, mais uma vez
quem sabe quando, talvez?
mesmo achando metido
esse cantinho de nada
aquela localização bizarra
numas árvores
umas pessoas
um muito de moda
um mito de cada
gota
de uma lagoa
de fogo botado
de um humaitá
adotado

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Occupy


Occupy
(Vinícius Andrade)

Ocupe, somente
ocupe sua mente
ocupe wall street
ocupe a cinelândia
e ocupe também
o buraco da infância
ocupe, porra, ocupe
e se preocupe
ocupando-se e cuidando
de você e de mim
só não pare de ocupar
afinal
somente ocupando
de noite, de madrugada
de manhã, à tarde
se alcança a liberdade

domingo, 16 de outubro de 2011

poema-desafio ao monstro consagrado


poema-desafio ao monstro consagrado
(Vinícius Andrade)

virou marca
foi-se seu tempo de liberto
de desnudo
de peito aberto
acabou tudo
que podia dizer de novo
de bom, de diferente
de criativo
então, eu-povo, me atrevo
pergunto e desafio
em tons suave-bandidos:
dá-me motivos
para comprar seu novo disco

New Your Times


New Your Times
(Vinícius Andrade)

pauta, texto, vida
tempo de reflexão
de análise crítica
pensamento, versão
futuro da mídia
social media creation
hard news noite-dia
fontes de inspiração
pra poesia

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Correria


Correria
(Vinícius Andrade)

correria
correr iria
se valesse qualquer coisa
se me levasse a um fim
se no fim do giro, chegasse lá
e fizesse sentido pra mim

correr não iria
de maneira nenhuma
correr para que?
correr iria para que?
absolutamente graça alguma
ser onda fraca sem espuma

corri
não corro mais
as panturrilhas doem
não me canso ademais
ando preguiçoso e zen

ferida aberta não-lida


ferida aberta não-lida
(Vinícius Andrade)

cada dia que está passando
sinto sendo como um livro
que não li
e nem lerei
sequer abri ou peguei
mas sigo conhecendo-o
de maneira superficial
com comentários profundos

esses dias vão me ferindo
sinto-me puta e bandido
que não comi
nem prenderei
tampouco os entenderei
e continuo-me rasgando
o meu ser superficial
com deletérios imundos

A Fome


A Fome
(Vinícius Andrade)

no universo, há fome
na áfrica, há fome
no brasil, há fome
no sul, há fome
neste estado, há fome
no município, há fome
no meu bairro, há fome
na avenida, há fome
na pensão, há fome
neste cheiro, há fome.

Aniversário


Aniversário
(Vinícius Andrade)

meus parabéns
e muito obrigado
por tudo
por tanto,
e portanto,
leve teus
os meus parabéns

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

a aposentadoria do meu pensar


a aposentadoria do meu pensar
(Vinícius Andrade)

quero vida de eterna sexta-feira
como a de minha mãe
como a dos ricos fúteis
tais quais as dos descamisados úteis
na noite fria
com a alma frita
sem lã

não fosse pedir muito
queria ainda mais que sexta
gostaria é da aposentadoria
do meu pensar

a utopia dorme
na ausência da expectativa
no ser sexta-feira
e haver um sábado para eu me matar
e um domingo para me recompor

O Fla x Flu


O Fla x Flu
(Vinícius Andrade)

o preto-e-o-vermelho
que pega o verde-branco-grená
me faz pensar
no sentido que nisso há

a camisa-rival deles
que cheira a caipirinha
a me encucar
nessa história tão mesquinha

a bola nossa não entra...
questão interna de superstição
me faz odiar
o bar, o amigo e a televisão

o que não deveria jogar
nem no Flamengo, nem em luxemburgo,
me faz gritar
em altos brados, quanto é burro

o passe bonito
coisa de sorte, fração de segundo
nos faz vibrar
e vira-placar, vira-mundo

o branco, o preto, o amarelo
os que se conhecem, não sequer
me encantam
como o gol faz-se amar qualquer

O Olho Que Treme


O Olho Que Treme
(Vinícius Andrade)

Meus olhos tremem
e o manual da vida urbana diz,
é o estresse.

Agora... não sei se é estresse
pelo trabalho não-realizado,
pelo filme não-ainda-visto,
ou pela chegada,
minutagem contada,
da enamorada

Minto...
só o esquerdo é que treme
e nem olho, de fato, o é
é só o cílio, ou melhor
o que está acima dele
que se chama como?

Sobrancelha?
Sombrancelha?
ou Sombracelha?

e quanto mais penso nisso...
...mais o bendito-mal-dito treme
ai, meu Deus...
vou parar de pensar em ti, olho
e vou ver TV.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Mr. Cab Driver


Mr. Cab Driver
(Vinícius Andrade)

inside a cab
i think about life
about poetry
and things of my anglophony
i care, i wish, i write
i'm wise in this cab
surrounding lagoon
riding too soon
to the moon
i can see from the cab
this confortable cab
this miserable cab
driven by a wonderful bald man
breathing some fresh conditioned air
trying not to be so from here
guess i'll get out of here
guess i'll admit:
só faço poesia em português

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Dinheiro


O Dinheiro
(Vinícius Andrade)

o dinheiro
não vai te salvar
não vai trazer o amanhã
não será conforto
não dirá o segredo
nem te tornará menos vilã
sequer desobstruirá
não irá revoltar
quiçá revolucionar
não há de compor
não há de criar
não há de transpor
não há de ousar
não renovará
não será lei, o seu dinheiro

necessariamente,
não necessariamente
não

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

iLife


iLife
(Vinícius Andrade)

foi a maçã libertadora?
quando caiu em nossas cabeças
ou nos tornou presas
da compulsão avassaladora?

foi a maçã inovadora?
em unir arte-tecnologia
ao unir-se informativa
foi a maçã transgressora?

foi a maçã revolucionadora?
no instante em que criou
a partir do momento, mudou
o paradigma humana-criatura?

foi a maçã melhoradora?
das nossas vidas vãs
para nossas fés pagãs
uma realidade redentora?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Que eu sou eu?


Que eu sou eu?
(Vinícius Andrade)

ando me estudando
buscando inspiração
tentando saber
o que me tira do chão

tento achar
a mola que me empurra
que dá o start
a vontade que me emula

busco me olhar
pelo lado de fora
holisticamente eu
escutar-me pela porta

escrevo para que?
sinto até onde?
o que é isso?
qual é minha fonte?

faço escritos e cantos
canto pelo canto
sem preocupação
se estão gravando

amo como acho
convicto e curioso
de que não amar
não seria delicioso

quero a intimidade
de chegar e dizer
"ok, vamos lá
vamos lá ser"

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

poema da boa chuva


poema da boa chuva
(Vinícius Andrade)

quanto mais gente
aglomera-se
e mais e mais quente
fica-se
mais sei que papai do céu
faz tudo ao jeito seu
direitinho
certinho
estranhinho
providencialzinho
traz a chuva quando traz
faz o bem quando faz
chuva boa
vida boa

homeoffice


homeoffice
(Vinícius Andrade)

acordar
dormir
trabalhar
comer
cobrar
fazer
dizer
responder
organizar

ser fora da ordem
fora da sua ordem
fora da sua desordem

liberdade?

Três Irmãs


Três Irmãs
(Vinícius Andrade)

um sol
um feliz sol
um feliz, um branco sol
um feliz, um branco e um infantil sol
num só sol

ostra-homem-vegetal


ostra-homem-vegetal
(Vinícius Andrade)

a desorganização dos meus sentimentos
se reflete na minha casa
na minha casca
na minha alma
no meu proceder
até como vejo amanhecer
e no jeito como recluso meus pensamentos