sábado, 28 de janeiro de 2012

Oi, Futuro

Oi, Futuro
(Vinícius Andrade)

o Futuro
está numa receita
da Ana Maria Braga
que se anotou
se imaginou
se babou
se comprou
se preparou
se retirou
se provou
se engordou
se culpou
se orgulhou
se deleitou
e se cagou

Culturaê

Culturaê
(Vinícius Andrade)

por vezes tento mergulhar
na cultura que é um mar
na promessa de mente fértil
e liberdade que não se viu

por vezes tento me explicar
se cultura pra buscar
é veramente uma fonte útil
ou é mera bobagem pueril

EnCulturaê
EnCulturaEu
DesCultura-se
DesCostura-me

Calimocho

Calimocho
(Vinícius Andrade)

o vinho e a coca-cola
protagonizaram uma cena
mas que cena...
uma cena digna de uma ópera
meio Verdi... meio Mozart
ou seja... densamente distintos
se misturaram em suas loucuras

A coca,
moça preta
preferência mundial
efervescentemente jovem
no borbulhar da pele gostosa
refrescante e danosa

O vinho,
senhor...
de poucas boas línguas
metido, de tom avermelhado
no embriagar do seu alto teor
cobra criada enganado

pois ousaram apresentá-los...
e essa ousadia juvenil
uma transgressão à ordem
à existência de mundos xis
mexeu cabeças
mexeu quadris
mexeu mesas
lisas e bombris

A maciez da minha literatura

A maciez da minha literatura
(Vinícius Andrade)

quando eu escrever
será algo macio
um texto bem difícil
dos que tornam vida
momentaneamente pior

(visto que é boa
quando se é besta
posto que é ruim
quando se atesta)

mas quando eu escrever
será realmente macio
o texto bem ridículo
visto que é ridícula
toda tentativa de criar

criar não se tenta
criar se cria
não se pensa
se copia

a minha literatura não será minha
visto que o empréstimo
durará nem uma vida...
minha literatura
não será de ninguém

In Horóscopos We Trust

In Horóscopos We Trust
(Vinícius Andrade)

o jeito como é tudo
engana-te tanto...
é mentira entranhada
nas entranhas, é modo
que porque não
acreditar em magia
em tecnologia
em horóscopos
e em teólogos?
em bafõmetros!

tudo é uno, um é tutto
o meu, o seu, o dele
o deles, o vosso, o nosso
estamos todos na mesma
no poço profundo mesmo
que mais um signo
menos um digno
não muda mais é nada
não acredito mais em não-nada

Relatividadezação

Relatividadezação
(Vinícius Andrade)

concordo
que pode ser
que pode estar
que pode não estar
que ser não pode
que ser estar
que ser pode
que estar pode
que estar não
que estar não ser
não concordo

Na Nuvem

Na Nuvem
(Vinícius Andrade)

na nuvem
eu gostaria de compartilhar com o mundo
meus mais profundos
sentimentos de angústia, de dor
de vertigem
de fome e de amor.
preciso que a internet me sinta
e preciso senti-la
não posso imaginar que a nuvem
é algo da minha imaginação
necessito de chão
de paixão
de um pouco mais de retrospecção
necessito ser de hoje
mas meus sentimentos são de ontem

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

V

V
(Vinícius Andrade)

está em mim
na vingança
na esperança
na esperança?
é... na esperança.
de deixar de perder
de ser menos menor
menos pior
menos atroz
menos menos
e, enfim
sentir um gostinho
de vitória

13 de maio

13 de maio
(Vinícius Andrade)

Dia treze de maio
o cativeiro acabou
e os escravos gritaram
'liberdade, senhor!'

Na treze de maio
prédio inteiro desabou
e os bombeiros gritavam
'piedade, senhor!'

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Al-Olhar

Al-Olhar
(Vinícius Andrade)

Essa coisa arábica
tão sua
Sua e de sua mãe
das olheiras que delineiam
acima das maçãs
um olhar dos que devoram
profundo
isso é bonito
é muito bonito

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Qual é o Limite?

Qual é o Limite?
(Vinícius Andrade)

a sua bunda
ou a minha bunda
ambas têm um fim
pode ser o intestino
pode ser a audiência
cabe a você definir
o tamanho da sua escolha

Lovely Rita

Lovely Rita
(Vinícius Andrade)

Rita
não vá
sem você não será
a mesma merda que hoje há
fica, Rita
aguenta conosco
e faça protesto
em forma de notas
de socos nas portas
contribua com canções
modesta e gentilmente pedem,
seus fãs

O para sempre infinito

O para sempre infinito
(Vinícius Andrade)

apesar da vida,
da briga
e da ferida,
eu te amo.
e amo.
e amo.

Religião

Religião
(Vinícius Andrade)

sou teu Jesus
te salvei
te dei internet

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Caralivro ou Caralivre?

Caralivro ou Caralivre?
(Vinícius Andrade)

Saí do Facebook
mereço um buquê?
porque?
livrei-me dos noobies?
melhorei os índices?
aumentei o PIB?
fiquei mais livre?
socializei conhecimento?
moralizei comportamento?
comprei menos em vão?
não
apenas saí do Facebook

BRICs

BRICs
(Vinícius Andrade)

Clinton
aquele da sala oval
deu, ao Brasil, aval
dizendo ser o mais promissor
do bloco neo-opressor

Clinton,
o da estagiária
esqueceu, tem memória falha
que o Brasil não é BRIC não
é, sim, um país BRInCalhão

Clinton,
que mora lá nos isteitis
não passa pelos perrengues
que o eu e o tu, dia a dia
aguentamos sem agonia

Clinton,
o ex-presidente grisalho
acho, cometeu ato falho
elogiou a terra errada
mude-se pra Pavuna, camarada

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma para Uma

Uma para Uma
(Vinícius Andrade)

não tô nem aí pra coisa alguma
fujo dos hipsters, dos bacana
daquilo que põe a gente em cana
e vivo querendo a minha dama
quando penso se a terra é plana
será que a física ainda se engana
cantariam os deuses astromantas?
sob atmosferas azul-cianas...
ares buenos, brisas amenas
sofro só de pensar nas africanas
e nas europeizações levianas
que introduziram, essas putanas
água de chope escuro no meu samba
agora vou-me embora, manos e manas
canso fácil, não sou dos bambas
é hora de ir, veja à sombra
são já nessa poesia, uma para uma

Pro(voc)atividade

Pro(voc)atividade
(Vinícius Andrade)

eu vou provocar
até tu pedir arrego
quero que enforques
com minhas ideias, a si mesmo

bom se eu provocar
até tu pedir chamego
quero que namores
suas próprias ideias, pelego

vamos provocar!
até largares o emprego
quero que evoques
ideias, nego

Caneca e Vinho

Caneca e Vinho
(Vinícius Andrade)

cansei de me ver
nesse universo burro
de só 'trabalho e amor'
sou mais que amor
e menos que trabalho

ganho caneca da firma
perco tempo na fila
jogo dados eróticos
esperando sexos ótimos

na verdade, na verdade
se é só isso
acho mera vaidade

e quero ser mais
'trabalho e amor' só?

acho realidade atroz

Buarque

Buarque
(Amanda Amorim)

O ser existe
Braços, boca e olhos ciano
O ser caminha
O ser insiste
Em ser humano

O ser tem cara
Vira matéria
É desigual
O ser escancara
Sua existência genial

O ser exala
Delicadeza pela fala
Sol que esquenta o dia
Luar que deixa a noite clara

Chico Buarque

Chico Buarque
(Vinícius Andrade)

como ser um ser
à altura
do ser Chico
quando, ao se ver
Chico,
apequena-se
pequenenico
diante do ser-mito?

como dá pra dizer
alguma...
como Chico
quando, ao conhecer
Chico
paralisa-se
espantadito
diante do caro amigo?

como tentar ter
sua dama
pós-Chico
quando, ao ouvir
Chico,
notabiliza-se
não-arrependido
que seria um mico...

A solidão

A solidão
(Vinícius Andrade)

A solidão
rói
corrói
enrudece
e endurece

A solidão
matou meus rins
e meus fins
sacrificou-me o fígado
e também o tímpano

A solidão
me fez feliz
por um triz
quando decidi
que não morri

A solidão
solidarizou-se
de mim
e me fez companhia
enfim

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Rap(t)e me

Rap(t)e me*
(Vinícius Andrade)

acabe comigo
dá-me bebida alcoólica até o fim
até o fim dos meus sentidos
faça-me afim
faça de modo ruim
e não se esqueça de ser bruto

me engane
dá-me tapas na cara, bata-me
até o fim dos meus gemidos
finja-me afim
finja, mas finja sim
que não esquecerei do ser bruto

rape me
rapte me o orgulho
chamaram-te homem
chamava-se mulher



*poesia dedicada à não-violência contra a mulher

Por Enquanto

Por Enquanto
(Vinícius Andrade)

Sou.
Por enquanto.
Daqui a pouco, nem isso...
é tudo emprestado,
nada meu
nada seu
nenhum céu
com muito mel

sou,
por enquanto,
daqui a pouco, nada mais
e não quero ser emprestável
quero ser seu
céu
seu eu, tão meu

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Para te ver melhor...

Para te ver melhor...
(Vinícius Andrade)

sou totalmente ceguinha
sou jovem menina que nada vê
fico assim, na minha
se vontade de me mexer

sou toda boba, uma bobinha
e não quero usar os óculos
tenho medo de ficar feinha
não ser olhada pelos moços

sou tão, tão, tão inha
que do auge da minha solidão
tapo-me minha boquinha
e evito chorar em vão

Coca-Cola

Coca-Cola
(Vinícius Andrade)

eu bebo uma coca-cola
ela me inspira
minha mente decola
enquanto penso no borbulhar
da água gaseficada
e das outras substâncias
todas misturadas

a coca-cola que eu bebo
me inspira
pois como não bebo
quando bebo
penso como seria beber
como seria viver
como seria ser outro cara
um cara que bebe coca-cola

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O segredo da mente do poeta

O segredo da mente do poeta
(Vinícius Andrade)

o que quer o poeta?
o mesmo que o profeta?
qual é a sua meta?
quer que alguém se meta?

quer o nobel?
uma vida doce como mel?
lindas mulheres sob véu?
ou cachaças como troféu?

o poeta quer ser lido?
e ter seu verso dito
redito, repetido, desdito
retuitado, deturpado, mito?

poeta quer banana?
quer fugir da rima "bacana"
deseja ser sacana?
quando quer ir pra cama?

seguiremos sem saber
o poeta não se deixa saber
é pedra dura demais pra conhecer
é palavra russa pra chinês dizer

Português Presidencial

Português Presidencial
(Vinícius Andrade)

presidento!!!
é assim que vou chamar agora...
foda-se o mundo!
foda-se o certo!

poesia do dia 28 de dezembro

poesia do dia 28 de dezembro
(Vinícius Andrade)

esta poesia
nenhuma regalia
há de ter
quanto as outras todas

esta poesia
não há de ser
mais eficiente, melhor
que minhas outras

esta poesia
diz nada
a não ser
que diga coisa

Tédio

Tédio
(Vinícius Andrade)

Existe algo mais prazeroso do que a luta
assistida intima e ferozmente
sempre que o fare niente
brinca de guerra contra a culpa?

Tédio.

Quero novos conflitos, pois este é batido.

Brownie

Brownie
(Vinícius Andrade)

vendo anamariabraga
deu vontade de cozinhar
de um brownie preparar
um brownie de nozes
e nele me botar
depois te separar
te colocar
e nos misturar
um brownie de nós(es)

Tiro na mão

Tiro na mão
(Vinícius Andrade)

periguete
masca chiclete
no honda civic
onde já se viu?

faz programa?
e sem vista panorâmica?
na casa de festa
onde vai o pateta

beijo tu
beijo o teu susto
beijo ela
só não na testa

tira a mão
pois dá explosão
mira na mão
futuro no chão

Jesus Cristo Mendigo

Jesus Cristo Mendigo
(Vinícius Andrade)

eu,
2011 anos depois,
ainda acredito na bondade
e na caridade
essas grandes bobagens
como forma de salvar
essa merda que meu pai fez
chamada humanidade

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Natal

Natal
(Vinícius Andrade)

acabaram-se os panetones
as romãs entupiram o ralo
as uvinhas murcharam
todo mundo quer sonhos